Há tanto caos neste emaranhado de concreto e tanto frio. Nem mesmo os cabos inflados de energia podem aquecer o coração de quem por aqui passa.
Paro para admirar pequenas bolotas sem vida, distribuídas com a intenção de iludir pequenos humanos, reluzem atrás de um vidro úmido e empoeirado no qual posso ver meu reflexo retorcido e arranhado pelos anos.
Já me encantei com esse zoológico sintético, mas aprendi que ele só serve para disfarçar nossas carências.
Continuo pelo concreto sentindo meus pés adormecerem; o cheiro de enxofre e carbono fere meus olhos, mas não me preocupo pois já estou quase na esquina. A esquina da rua do monótono com a rua do conforto é onde deixo as rodinhas da minha mala virarem suavemente para a esquerda e começo a abandonar a massa inexpressiva, me dirigindo às telhas brilhantes onde residem sorrisos fraternais e meu abraço tem lar.