segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Passos na Selva de Pedra


  Nessa imensidão de corpos sem rosto vou vagando lentamente, com a pressa de quem nada tem e nada busca.
  Há tanto caos neste emaranhado de concreto e tanto frio. Nem mesmo os cabos inflados de energia podem aquecer o coração de quem por aqui passa.
  Paro para admirar pequenas bolotas sem vida, distribuídas com a intenção de iludir pequenos humanos, reluzem atrás de um vidro úmido e empoeirado no qual posso ver meu reflexo retorcido e arranhado pelos anos.
  Já me encantei com esse zoológico sintético, mas aprendi que ele só serve para disfarçar nossas carências.
  Continuo pelo concreto sentindo meus pés adormecerem; o cheiro de enxofre e carbono fere meus olhos, mas não me preocupo pois já estou quase na esquina. A esquina da rua do monótono com a rua do conforto é onde deixo as rodinhas da minha mala virarem suavemente para a esquerda e começo a abandonar a massa inexpressiva, me dirigindo às telhas brilhantes onde residem sorrisos fraternais e meu abraço tem lar.