sexta-feira, 19 de agosto de 2011

19/08

   

    Este dia eu dedico aos mortos em vida, a aqueles que vagam sem rumo e desvanecem pouco a pouco com o compasso do relógio.
   Faço isso pois aprendi que não há dor maior do que o necrosar da alma e a fadiga da emoção. Sim, estamos fadados à perda absoluta; ora perdemos um ser querido, ora perdemos a nós mesmo, ora perdemos o chão que nos sustenta.
   Deve estar a resmungar e apontar quão obscuros são meus versos caro leitor, mas isso em nada me comove. Deve aceitar a veracidade de minhas palavras para compreender o marasmo disto que chamam viver.
   Faço por ultimo um brinde ao fim! Que seja degustado em garfadas fartas e que pouco tarde, pois já estou cansado deste lugar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Escrivaninha e pensamentos




   Sentei na esquina empoeirada do meu quarto onde a escrivaninha sustenta o amarelado dos anos. Traguei um pouco de realidade e, logo, cuspi algumas palavras sujas de compaixão.
   Arranhei o papel para tentar tirar de minha pele a casca podre da emoção; debrucei-me sobre a razão e lhe implorei por um bom conselho. Esta, cheia de si, me deu um sorriso frio e virou-me as costas.
   Eis que agora estou só neste canto úmido e a meia luz do meu sepulcro só enfatiza as verdades que quero afugentar e mais uma vez, mais uma vez, não há em mim gota de sentido ou motivo para ser sincero.
   Porém, não há nada que me mereça desprender criatividade para a mentira. Concluo então, que não existe em meu peito motivações para o bem ou para o mal nesta hora tão relutante a passar.
  É por isso, talvez, que procuro em meu piano de idéias uma nota, uma única nota, para definir tudo que agora venho a sentir. Pois se a emoção está por me causar enjôos e a razão a me ignorar, o que a este pobre ser pode lhe sobrar?
   Existe algo mais além ou talvez o além não seja algo em si. Tal dúvida, meu caro leitor, é de certa forma a engrenagem que me permite estender meus dias. Tenho a sutil crença de que, ao desvendar os mistérios de meu pesar, deixarei não só de devanear em versos tortos, mas também deixarei de caminhar por esta trilha sinuosa chamada vida.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cravo



  Cortei a minha carne deixando o mar vermelho banhar os azulejos. A lembrança das palavras frias que dividimos me assombrando; o som da porta batendo, o seu carro virando a esquina acelerado.
   Fomos ilusos poetas, só mais um par de tolos. E por mais que eu grite, diga que te odeio e por mais que você amaldiçoe meu nascimento, sabemos que estamos mentindo para nos mesmo.
   Meu corpo está tremendo, já anoiteceu.
   Desculpa, manchei seu anel. Mas acho que não vai querer ele de volta, vai? Resolvi deixar tudo está noite.
   E é verdade, não vou conseguir ver que sou a causa da sua raiva mais uma vez. 
   Se minha fraqueza está sendo um peso eu lamento.
  Deixei um bilhete simples na escrivaninha caso resolva voltar; anotei a senha da minha conta para que não diga que fui um gasto até o final.
  Pode ser bobagem pensar nisto agora, mas se por ventura resolver me deixar flores que sejam cravos vermelhos, para lembrar que um dia vivemos um para o outro.
    

domingo, 10 de julho de 2011

Ardendo



  Rasgou minha pele; escreveu seu nome a ferro quente em meu peito. Seu sorriso paralisou cada centímetro de meu corpo.
  Com os dedos acariciou suavemente meus cabelos, então fez a terra me engolir e no mesmo instante me mostrou a Luz. As cicatrizes antigas aos poucos vão clareando, vão sumindo. Mas eu sei que uma marca maior vai me acompanhar quando meus olhos se abrirem.
  Agora a voz está me confundindo e querendo me queimar; parece loucura, no entanto é reconfortante. 
  Por favor razão suma daqui, só volte quando amanhecer.
  Sim, eu sei que vai ser pior quando acordar, mas por enquanto deixe está chuva arder; deixe-a consumir cada gota de preocupação e me fazer esquecer por hoje que existe algo além de nos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Eu quero...



Eu quero arder lentamente em cada beijo seu, em cada toque e duvida que sentir.
Quero mergulhar nas suas lagrimas para te salvar de todos os medos do mundo e emergirmos para o céu azul; sentir toda a liberdade que só uma risada estridente pode trazer.
Quero você aqui.
Quero transformar o tremor em arrepios e sussurrar ao seu ouvido coisas tolas só para te distrair.
Quero fazer do sábio um parvo em um instante e ouvir que não é possível; vou fazer ser.
Quero você aqui.
No final é apenas isso que desejo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fraqueza

   

   Acordei querendo um novo desafio, com o nítido desejo de saltar muito além desse cheiro de podridão! Você pode até dizer que não há nada lá mas eu sei, eu simplesmente sei. 
  Esses garotos, usando as mesmas drogas de sempre. Eu não vejo graça; como não se importar com a garota que pede por socorro?! Parece que só eu estou ouvindo ela gritar, por que estão todos rindo? Por acaso estão todos loucos? Parece.
   Ninguém se importa. Eu queria poder ir te salvar, mas eles não deixam. Me perdoá. 
  Já senti frio, já me senti perdida, já senti meus joelhos quebrarem; mas nada capaz de me fazer dizer "sei como se sente". Você acha que estou feliz? Você está machucada, rasgaram sua alma.
   Eu não estou bem; não quero ver, não quero ouvir! Será que uma hora essa agonia vai passar? 
   Meu Deus, quanto tempo mais ela vai aguentar? Por favor, por favor.. 
   Eu sei que tem algo além disso, eu vou saltar. Me desculpe por não te ajudar.
   Nos vemos do outro lado? 
   

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Prece



Hoje juntei as mãos em prece e chorei, chorei lágrimas frias que me arderam no coração mais que o veneno do desprezo tomado por mim, sentido por outros.
Se não sei o que fazer é por que nasci assim; filha do vento, irmã da solidão, herdeira do desapego.
Por favor, não me chame de cruel e não detenha seu tempo por meu tempo. Nunca pensei nos sentimentos de ninguém, as vezes fingi me importar. É verdade. 
É como aquela noite em que nos perdemos; tive medo, mas tudo deu certo [no final sempre dá tudo certo, não é?]
Realmente não quero te perder, mas parece que cada ação minha te faz sofrer mais. Vamos lá, eu já nem percebo mais quando as lágrimas me fogem, parecem tão naturais. Mas as mesmas que eu sempre carrego não combinam com seus olhos; não te farei chorar mais. Escolhi seguir a viajem sozinha, juntei minhas mãos em prece e tomei aquele velho veneno. Me odeie, mas por favor não me ame mais. Isso dói!